“A Charneca” é um dos grandes terrores rurais britânicos dos últimos anos, atravessando com precisão o terreno pantanoso da culpa e do luto. Chris Cronin constrói uma atmosfera densa, onde a tensão se instala desde os primeiros minutos e não larga o espetador até ao fim. O filme começa como um policial, mas rapidamente o sobrenatural infiltra-se, minando qualquer hipótese de explicação racional e arrastando-nos para uma espiral de medo primitivo. A força do filme reside na forma como combina o rigor da investigação criminal com uma inquietação mística que faz lembrar as melhores histórias de fantasmas britânicas. As incursões no estilo "found footage" e planos em primeira pessoa mergulham-nos ainda mais na inquietação, colocando-nos dentro do terror, como se estivéssemos a respirar o mesmo ar pesado da charneca assombrada. Apesar da duração relativamente longa para o género, “A Charneca” justifica cada minuto: é preciso tempo para deixar que a melancolia, o horror e a inquietação se entranhem, como um nevoeiro que nunca se dissipa. O resultado é um filme poderoso, por vezes angustiante, onde o terror é tão emocional quanto espectral.